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Editorial
Teresa Calçada e Elsa Conde
Cabe ao tradutor assumir a responsabilidade pela produção do significado que realiza e pela representação do autor a que se dedica.
Rosemary Arrojo

A Entreler quer ocupar-se de temas nas áreas da leitura, do livro, da escrita e da literacia, e é isso que vem fazendo desde o número 0. Não se tratando de uma dedicação exclusiva, em cada um dos números, a assuntos específicos ou especializados, há um tom, uma orientação para, dentro da variedade possível de assuntos, algum merecer um privilegiado interesse.

É o caso deste número, onde a tradução marca, e bem, o tom dominante. Desde logo, a entrevista em que Francisco José Viegas conversa com dois eminentes tradutores portugueses, Miguel Serras Pereira e Tânia Ganho, aos quais muitos somos devedores por, através deles, nos ser dado chegar às vozes literárias mais importantes e marcantes da literatura mundial.

Dos clássicos aos autores de hoje mais reconhecidos como grandes escritores no mundo literário contemporâneo, é pela palavra escrita por estes tradutores em português com que nos cruzamos que beneficiamos do pensamento e da forma criativa de partilhar muitas outras línguas. Como o nosso poeta Eugénio de Andrade disse num maravilhoso título de um livro seu, há aqui um “trocar de rosa” que inevitavelmente atravessa o ato de traduzir.

Com este número da Entreler, que nos obriga a um agradecimento especial aos protagonistas, temos a expectativa que o mesmo mereça a atenção de editores, escritores, leitores e divulgadores das letras. Mas, também, por coincidência ou não, algumas das apreciações de livros selecionados nesta edição vão no sentido do valor da leitura, da escrita e da sua tradução, dos conhecimentos, cuidados, reservas e questionamentos associados, partindo para um conjunto de reflexões sobre a temática que nos agrada poder partilhar com o público da Entreler, na expectativa de, assim, estar a contribuir, através dos livros traduzidos e dos seus tradutores, para aproximar mundos e culturas.

Na verdade, se é importante o domínio da língua de onde se parte e da língua para onde se vai, não menos importante é o conhecimento das culturas envolvidas, porque só assim se estabelece um diálogo que aproxime as línguas de partida e de chegada, que, sendo idiomas diferentes, têm diferenças estruturais, têm raízes culturais que são o pano de fundo e o alicerce em que assenta a complexidade do que se diz e quando se diz no texto literário.

Traduzir é fazer a ponte entre culturas – dar sentido aos sentidos.

A tradução é, assim, o mote de três dos artigos publicados que, seguindo a lógica do número anterior, têm nos Estudos, nas Práticas, no Digital e neste tema a sua filiação.

Ana Sabino escreve sobre a leitura criativa conferida pela forma visual e material que o design oferece aos livros. Paulo Feytor Pinto e Shiv Kumar Singh fazem uma leitura intercultural do episódio da Chegada à Índia de Os Lusíadas, denunciando a ausência desta visão literária do Outro nos currículos nacionais. Tânia Fernandes mostra o impacto positivo da aplicação de programas de ensino explícito da compreensão leitora, comprovando a possibilidade de estes se estenderem a alunos do 2.º ano.

No âmbito das Práticas, Inês Nobre e Teresa Silva relatam duas experiências escolares de incentivo da leitura autónoma e por prazer desenvolvidas em contextos e com estratégias distintas: o projeto individual de leitura e o círculo de leitura.

No domínio do Digital, Luís Andrade dá a conhecer o Portal Revistas de Ideias e Cultura, analisando os seus objetivos, metodologias e resultados, e refletindo sobre a mudança de paradigma trazida pela edição e leitura em suporte informático.

Já no campo da Tradução, Alina Villalva debruça-se sobre os problemas de tradução de palavras, exemplificando-os e advogando a necessidade de investir num maior conhecimento lexical e na melhoria das ferramentas de trabalho para os resolver. Alexandra Lopes dedica-se à “arqueologia” da tradução literária, refletindo, através do exemplo maior de Walter Scott, sobre o papel que a tradução desempenha na construção de cânone(s) e do gosto literário de uma dada época. E Rita Bueno Maia e Joana Moura argumentam sobre a importância da leitura de traduções no contexto do ensino da tradução literária, mostrando que a leitura crítica e comparativa de traduções publicadas em língua portuguesa e noutras línguas é essencial para a formação de tradutores literários.

Feita esta apresentação, agradecemos a todos os que colaboraram na construção de mais um número da Entreler e desejamos a todos uma boa leitura.

 

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