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MEMÓRIA
Da materialidade do livro à memória coletiva e à projeção no futuro
From the book’s materiality to collective memory and a view for the future
Ana do Canto, Anabela Teixeira, Catarina Leal e Teresa Saborida

RESUMO

A Escola Secundária de Camões encontra-se em obras profundas de requalificação desenvolvidas pela Parque Escolar, EPE. Este é um tempo de oportunidade para se transformar este ‘museu’ da escola num novo conceito: o MUESC, um espaço museológico aberto ao público geral, inserido numa instituição de ensino dinâmica, atuante de cultura, ligada ao desenvolvimento passado, presente e futuro da sociedade.

O MUESC tem como objetivos não só a conservação e apresentação do espólio da Escola, como a montagem - a par de módulos museológicos de índole histórica - de exibições literárias, científicas e artísticas de natureza participativa e interativa e o envolvimento da comunidade escolar nas diferentes fases de todo o processo (desde a elaboração e montagem à divulgação e acompanhamento). 

O espólio da Biblioteca contempla obras de referência que percorrem vários séculos, símbolos da cultura portuguesa e da história universal. Constitui ainda um recurso fundamental para a melhor compreensão e conhecimento do património material e imaterial da escola, das práticas pedagógicas, das ideias e da mente humana.

É um dos objetivos deste projeto envolver a comunidade e, principalmente, os alunos, num processo de levantamento das obras mais antigas que permita atender a múltiplos aspetos relacionados com a sua materialidade: anatomia, formato, layout, suportes, entre outros.

Pretende-se valorizar o livro na sua materialidade, ontogenia e filogenia, estimular a incursão a obras literárias marcantes da nossa história e cultura, e também valorizar o diálogo intergeracional.

ABSTRACT

Escola Secundária de Camões is undergoing a large-scale renovation work by Parque Escolar, EPE. This is the right time to turn the school ‘museum’ into a new concept: MUESC, which is a museological space open to the general public, belonging to a highly dynamic educational institution that is tightly connected to its past but always looking ahead.

MUESC’s main aims lie not only on the conservation and presentation of school assets but also on the assembly – with museological modules of a historical nature -

of olding of literary, scientific, and artistic exhibitions of participatory and interactive nature. Furthermore, it aims at involving the school community in the whole process (drawing, assembling, dissemination and monitoring).

The Library assets comprise reference works dating from centuries ago, which are symbols of the Portuguese culture and world history. They are a key resource for the understanding and knowledge of the school’s material and immaterial heritage, teaching practices, ideas and the human mind.

One of the main goals of this project is to involve the community, especially the students, in a process of surveying the oldest reference works, which will allow them to consider multiple aspects related to their materiality: anatomy, format, layout, among others.

The idea is to value books in their materiality, ontogeny and phylogeny, to stimulate an incursion into literary works that play a key role in our history and culture and also to value intergenerational dialogue.

PALAVRAS-CHAVE  

MUESC, livros, biblioteca, património, memória 

KEYWORDS

MUESC, books, library, heritage, memory

NOTA CURRICULAR DAS AUTORAS

Ana do Canto é professora de Artes Visuais, leciona atualmente na Escola Secundária de Camões, onde coordena o Projeto Máquina do Mundo - Experimentar Design e participa no Erasmus+ EDU4U. Licenciada em Design de Comunicação pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (1994). Pós-graduada em Teorias da Arte pela mesma Faculdade (2002). Foi professora Cooperante em Ensino das Artes Visuais da Faculdade de Belas-Artes (2011-2013). Coordenou o Projeto OVO (Oficina Visual Ortónima) na Escola D. Filipa de Lencastre (2009-2013). Integra, desde 2018, a Equipa de Educação Artística da Direção-Geral da Educação.

Anabela Teixeira é professora de Matemática, a lecionar na Escola Secundária de Camões, e curadora do MUHNAC - Museu Nacional de História Natural e da Ciência. Mestre em Matemática pela FCT- UCoimbra (2004). Realizou o Curso de Formação Avançada no âmbito do programa de Doutoramento em Educação, especialização em História da Educação no IE-ULisboa (2009), a desenvolver a sua tese sobre a vida e obra do Professor José Sebastião e Silva (1914-1972). Tem colaborado em vários projetos na área da História da Matemática e do seu ensino, do Património científico e cultural, Matemática recreativa e Educação Matemática; como investigadora, nos seguintes: Memória da SPM (FCG143170/2016), Roteiros da inovação pedagógica: Escolas e experiências de referência em Portugal no século XX (PTDC/MHC-CED/0893/2014) e Educação e Património Cultural: escolas, objetos e práticas (PTDC/CPE-CED/102205/2008).

Catarina Leal é professora de Biologia e Geologia e adjunta do diretor da Escola Secundária de Camões. Licenciada em Ensino da Biologia e Geologia (variante Biologia), pela Faculdade Ciências da Universidade de Lisboa. Mestre em Ciências da Educação, História da Educação, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa. Foi investigadora dos projetos, financiados pela FCT, Literacia Científico-Tecnológica e Opinião Pública: o Caso dos Consumidores dos Museus de Ciência (CICTSUL) e Educação e Património Cultural: escolas, objetos e práticas (IEULisboa).

Teresa Saborida é professora bibliotecária da Escola Secundária de Camões desde 2009 e professora de Português. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, variante Português - Francês, pela FCSH da Universidade Nova de Lisboa. Frequentou o Mestrado de Ciências Documentais na Universidade Lusófona na parte curricular e seminário (grandes temas na área da biblioteconomia).

INTRODUÇÃO

As instituições de ensino geram património. A ação educativa materializa-se em objetos, livros e manuscritos que são acumulados e intensamente utilizados em salas de aula, laboratórios, bibliotecas e demais espaços. 

A essência dos fragmentos patrimoniais diz respeito ao passado, mas é nos tempos modernos que ela se manifesta, se legitima e se incorpora nas instituições. O património nasce efetivamente do presente. É neste que pode ser objeto de observação, estudo, manipulação, acumulação ou, simplesmente, objeto de conservação. O património também pode ser visto como recurso pedagógico, atração turística, aparelho ideológico ou político.

Neste texto focar-nos-emos no património da Escola Secundária de Camões, em particular nos livros da sua Biblioteca Histórica, como é o caso do Rimas varias de Luís Camões, publicado em 1685.

1. UM ESPAÇO VIVO AO SERVIÇO DA CULTURA E DA CIDADANIA

É uma ilusão pensar que as memórias nos ajudam a resolver os problemas do presente. Mas, sem elas, não há existência humana que tenha sentido. Por vezes, é grande a tentação de amnésia. Para contrariá-la, impõe-se o esforço de pensar a história, de nos pensarmos na história.
(António Nóvoa, 2003)[1] 

O Liceu Camões, construído entre 1908 e 1909, foi o primeiro ‘liceu moderno’[2] de Lisboa, da autoria do arquiteto Ventura Terra, promovido pelo Estado no âmbito de uma política de fomento do ensino secundário.

Atualmente, é a Parque Escolar EPE, empresa pública criada pelo Ministério da Educação[3], que planeia, programa e fiscaliza o processo de recuperação e modernização de escolas.

Na nossa Escola, a intervenção da Parque Escolar EPE iniciou-se em 2019, com uma obra projetada pelo gabinete do arquiteto João Falcão de Campos. A reabilitação de uma zona das caves (sul) está a ser executada de modo a albergar o ‘Museu’[4] - um espaço de exposição de longa duração, com zona de reserva visitável e arquivo, estando também a ser equacionados espaços que se ajustem a exposições temporárias. Estas novas condições impulsionaram o desenvolvimento e a concretização de estratégias para a consolidação de um novo conceito: o MUESC - Museu da Escola Secundária de Camões Mariano Gago. Aqui pretende-se estudar, sistematizar, conservar e musealizar o espólio da Escola através de um projeto participado, colaborativo e inclusivo da comunidade, de profissionais de várias áreas científicas, que abranja vários setores e parcerias e que cruze memórias de várias gerações. Pretende-se um museu aberto a todos os que o queiram visitar, inserido numa escola viva, que contemple módulos museológicos de índole histórica, de exibições literárias, científicas e artísticas que contribuam para uma melhor compreensão das ideias, teorias e fenómenos, numa perspetiva transdisciplinar. 

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Figura 1: Estrutura do MUESC - Museu da Escola Secundária de Camões Mariano Gago

Tal como ilustrado na Figura 1, as Coleções, o Arquivo e a Biblioteca são elementos cruciais para o desenvolvimento deste projeto. A criação do MUESC implica o desenvolvimento de múltiplas tarefas, necessárias ao estabelecimento de uma política de gestão comum a todo o acervo que garanta os requisitos compatíveis com a candidatura à credenciação deste projeto, de acordo com a Lei-Quadro dos Museus Portugueses, Lei n.º 47/2004 de 19 de agosto. A organização e execução destas múltiplas ações só será possível num contexto que possibilite uma abordagem multifatorial e transdisciplinar, assente na materialidade das diferentes coleções, no suporte documental e bibliográfico e respetivo programa de comunicação e divulgação.

A documentação relacionada com as coleções está dispersa por várias séries em que se integram documentos, como correspondência (recebida ou enviada) ou copiadores, inventários, traslado de recibos e faturas, atas dos órgãos que foram constituindo as estruturas das escolas, livros de registos, entre outros. Esta documentação é um recurso fundamental para a investigação, ensino e cultura, necessário à valorização do património da escola, do conhecimento da sua história, sob a forma de exposições, roteiros e atividades educativas.

O Arquivo e a Biblioteca da Escola Secundária de Camões, atendendo ao contexto da sua fundação, possuem também elementos que, pela sua importância e singularidade, se constituem itens musealizáveis. É disso exemplo o que se apresenta ao longo deste texto, em particular na parte 3 - ‘objeto do mês #3’: a tridimensionalidade do livro na era do digital. Assim, o património documental e bibliográfico tem um duplo valor: enquanto património em si mesmo e enquanto informação associada às coleções, objetos, ideias, pessoas e tradições.

Ao longo de mais de cem anos, o acervo bibliográfico desta Escola acumulou cerca de 26 000 registos, entre doações e aquisições, que abrangem todas as classes da CDU (Classificação Universal Decimal). Muitas destas obras assumem estatuto de Livro Antigo e ainda publicações periódicas relevantes.

Desde 2010 tem sido feito um trabalho de divulgação deste espólio através de sessões destinadas a todas as turmas do 10.º ano. Nestas sessões fala-se da história do livro e mostram-se vários exemplares. A reação é sempre de surpresa e admiração. As capas, as cores, os caracteres, o cheiro, o tamanho e especialmente a idade do livro são os elementos que fazem sempre surgir questões relacionadas com a origem de certos livros na escola (se foram adquiridos ou doados), o preço, entre outras. Ainda não temos respostas para muitas das perguntas que colocam, mas a partir daquele momento os alunos percebem que há uma diferença substancial entre o acervo da Biblioteca Escolar, de livre acesso e com livros atuais relacionados com os currículos em vigor, e o da Biblioteca Histórica, com os livros “fechados à chave”. O próprio espaço desta coleção é imponente, com a sua estanteria de carvalho, portas de galinheiro em ferro (de dois metros de altura) e de acesso condicionado, o móvel de arquivo das fichas catalográficas, os bustos. Além desta representação material, os cheiros dos livros e madeiras compõem uma parte da história do Lyceu de Camões que a comunidade escolar valoriza como sendo um património a preservar. Esta solenidade do espaço contrasta com a ambiência descontraída que resulta da utilização frequente do piano por muitos alunos, que aproveitam para tocar composições de vários estilos e épocas.

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Figura 2: Fotografia retirada de um artigo de A Revista Expresso de 2 de novembro de 2013

As obras de requalificação em curso reafirmaram a urgência de se completar o inventário da Biblioteca. A perspetiva do embalamento despoletou várias ações centradas nos livros da Biblioteca Histórica. Os alunos do Curso Profissional de Técnico de Fotografia, no âmbito de Cidadania e Desenvolvimento, concretizaram o projeto “Registo Camoniano”, que reúne um conjunto de fotografias resultantes de abordagens técnicas, históricas e artísticas. Este projeto é um importante contributo para a valorização e divulgação deste acervo.

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Figura 3: Exemplo de fotografias do projeto “Registo Camoniano”, aqui com o livro Fenis Renascida ou Obras Poéticas dos Melhores Engenhos Portugueses (1718)

A história da Biblioteca do Liceu de Camões está, assim, intimamente ligada à história desta Escola, por onde passaram vários vultos da literatura, das ciências e das artes. Este espólio apresenta obras de referência, símbolos da cultura (i)material e história universais.

2. O ‘OBJETO DO MÊS’: ELEMENTO AGREGADOR DE CONHECIMENTO, DA MEMÓRIA E DA COMUNIDADE

O potencial expositivo do património da Escola Secundária de Camões é enorme e possibilita múltiplas abordagens. Este potencial pode e deve ser explorado dentro da própria escola e com os alunos. Neste sentido, no ano letivo de 2020/2021, foi iniciada a atividade ‘objeto do mês’, que tem como objetivo realizar pequenos ensaios de planeamento, investigação, interpretação, produção e instalação de uma narrativa sobre peças das diferentes coleções do espólio da escola e, assim, dar início a uma atividade museológica que se pretende interdisciplinar e intergeracional. 

O ‘objeto do mês’ pretende incentivar a partilha e a valorização do acervo da Escola e sensibilizar para a sua história através da divulgação de um folheto digital, disponibilizado na página da Internet da instituição, e de suportes físicos destinados a exposições temporárias visitáveis em diferentes espaços. Assim, a partir da experiência e do contacto direto com os bens materiais e imateriais, esta atividade apresenta-se vocacionada para desempenhar uma ação cultural, tanto no âmbito do ensino formal quanto do informal, envolvendo a comunidade educativa nos seus diferentes processos de apropriação e valorização do Património (I)Material da Escola.

O primeiro em destaque foi o microscópico ótico composto (M.O.C.) Reichert, fabricado em Viena entre 1908 e 1911, da Coleção da Biologia.  A partir deste instrumento científico, foi possível construir-se uma narrativa intitulada “Uma viagem ao mundo invisível”. A sua utilização pelos alunos da Escola foi recorrente ao longo de mais de um século, sendo um objeto bem presente na memória de todos.

Nas escolas, os testemunhos do seu manuseamento ficaram registados em múltiplas fontes primárias, como fotografias, livros de ponto, relatórios de professores, atas e cadernos. A referência a atividades com este instrumento também tem sido feita nos manuais escolares e em textos legislativos, sendo a sua valorização como recurso educativo frequente desde a fundação dos primeiros liceus portugueses.

Assim, para a construção do ‘objeto do mês # 1” foram consultados: inventários, catálogos, documentação da contabilidade, relatórios de professores, em particular o do professor Luís de Oliveira Maia referente à sua docência no Liceu de Camões[5] (1952), e o manual escolar[6] de que este professor foi coautor nessa época, vários sites e fóruns de especialistas em instrumentos científicos.

Atendendo à atual situação pandémica, tem-se assistido a uma valorização do papel da ciência na sociedade. Esta narrativa corroborou a importância do avanço da ciência e tecnologia associado à utilização deste instrumento científico e do seu impacto nas áreas da medicina, incluindo a vacinação, e da produção alimentar.

Esta iniciativa contou com a colaboração de vários professores e alunos (do curso de Ciências e Tecnologias e do curso Profissional de Técnico de Fotografia) e permitiu também a realização de uma atividade prática, enquadrada no domínio da reprodução e manipulação da fertilidade, do 12.º ano de Biologia. 

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Figura 4: Ícone do ‘objeto do Mês #1’

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Figura 5: Manual escolar A Terra e a Vida, Elementos de Ciências Geográfico-Naturais, de Luís de Oliveira Maia

O segundo ‘objeto do mês’, a régua de cálculo, projetou-nos para uma dimensão mais ampla. Em “Fomos à Lua com as réguas de cálculo…” utilizaram-se fontes como livros da NASA, compêndios escolares e correspondência disponível no Arquivo Histórico sobre o “Projeto de modernização do ensino da Matemática no 3.º ciclo liceal”, lançado em 1963/1964[7]. Foram realizadas experiências em algumas turmas e distribuídos textos e réguas de cálculo aos alunos e professores das turmas-piloto. São desta década a maioria dos exemplares de réguas de cálculo que se encontram atualmente nos espólios de algumas escolas, de que é exemplo a régua que esteve em destaque no ‘objeto do mês #2’.

No folheto de divulgação acrescentou-se uma fotografia de um evento realizado na Escola, no âmbito das Comemorações do centenário do nascimento de José Sebastião e Silva (1914-1972)[8], matemático que dirigiu as referidas experiências nas escolas portuguesas.

Com este objeto pouco conhecido, pretendeu-se chamar a atenção para a sua importância antes do aparecimento (na década de 1970) das, agora vulgares, calculadoras eletrónicas de bolso. A régua de cálculo foi utilizada por estudantes e profissionais de todo o mundo e ajudou a resolver problemas extremamente complexos, inclusive a ida do Homem à Lua, como testemunhou Norman Chaffee, que trabalhou no sistema de propulsão das naves Apolo.

Esta atividade permitiu ainda a exploração do conceito de logaritmo e suas propriedades em aulas de um curso de Educação e Formação de Adultos, e contou com a participação de vários elementos da comunidade (professores, alunos e familiares). 

 

Figura 6: Ícone do ‘objeto do mês #2’  

Figura 7: Manuais escolares de Matemática da década de 1960

O acesso ao acervo da Biblioteca foi muito importante para a documentação e enriquecimento da narrativa construída acerca destes dois objetos históricos. Muito particularmente o manual escolar, “na medida em que simboliza uma construção cultural, estrutura o ato do conhecimento, materializa a relação pedagógica e configura o campo epistémico-pedagógico da cultura escolar” (Magalhães, 2006, p.8).

3. ‘OBJETO DO MÊS #3’: A TRIDIMENSIONALIDADE DO LIVRO NA ERA DO DIGITAL

No ano letivo 2019/2020, apesar das dificuldades inerentes ao confinamento decorrente da pandemia, a comunidade escolar homenageou o patrono da escola, através da leitura integral de Os Lusíadas, que se encontra disponível no canal do Youtube TVCamões (Escola Secundária de Camões - YouTube). Este projeto contou com a participação de muitas dezenas de alunos, pais e encarregados de educação, professores e outros convidados. 

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Figura 8: Leitura integral de Os Lusíadas, pela comunidade da Escola Secundária de Camões. Desenhos do professor Filipe Duarte

Na sequência dessa iniciativa agregadora, decidiu-se eleger mais uma vez Luís de Camões e a sua obra como elemento crucial da nossa cultura, através da escolha para terceiro ‘objeto do mês’ do livro da Biblioteca Histórica da escola Rimas varias de Luis de Camoens Principe de Los Poetas Heroycos e Lyricos de Espana; comentadas por Manuel de Faria Y Sousa, Cavallero de la Ordem de Christo (Tomos I e II).

Esta escolha reforça, mais uma vez, um elemento central da matriz do MUESC, que é o envolvimento de temáticas de abordagem curricular com os objetos do espólio da escola, promovendo junto dos diferentes elementos da comunidade aprendizagens formais e informais. Neste caso, sendo Camões um autor indicado no currículo da disciplina de Português, no domínio de Educação Literária: interpretar textos literários portugueses de diferentes autores e géneros, produzidos entre os séculos XII e XVI.

De 1685, esta edição de Rimas varias, impressa na Oficina de Theotonio Damafo de Mello, impressor da Casa Real, tem todas as páginas em excelente estado de conservação, embora a capa e a lombada estejam danificadas. Tem indicado que o conjunto de obras que integra foi oferecido a D. João da Silva, Marquês de Gouveia, que foi presidente do Desembargo do Paço, Mordomo Maior da Casa Real.

Fazendo um breve estudo da “anatomia” deste livro, e selecionando apenas alguns elementos, destacam-se as características seguintes. As suas dimensões são 21,3 x 30,3 x 6 cm, [XLVI p] 339 p. A capa e contracapa é em pele gravada com baixo relevo, e na lombada encontra-se gravado o título e no sopé “Bibliotheca do Lyceu de Camõ[es]”. As duas folhas de guarda são marmoreadas a ocre, bordeaux e preto.

Na folha de rosto, ou frontispício, encontramos composição tipográfica centrada com composição rítmica entre caracteres maiúsculos, minúsculos e itálicos em diferentes tamanhos. Nela se apresenta um carimbo, o da Biblioteca da Escola, e a indicação de uma localização do livro, escrita a azul “E 8, P 2”. Contém na primeira parte a dedicatória, aprovação de censores da Inquisição, advertências (utilização de abreviaturas e outras informações importantes destinadas aos leitores), prólogo, “vida del poeta”, “juizio destas rimas, discurso acerca de los versos de que constam”.

No início de cada capítulo, os cabeçalhos contêm xilogravuras de floreio cujo desenho de linha preta sobre fundo branco são recursos gráficos estilizados ao gosto português da época. As capitulares surgem, por vezes, com motivos botânicos ou aparecem simplesmente com tamanho maior.

O texto corrido é composto em duas colunas, utilizando dois tipos de caracteres tipográficos, o itálico para a lírica camoniana e o romano para o texto de análise/ comentário, ambos com ligaduras tipográficas. À época, os caracteres romanos humanistas com a influência francesa de Claude Garamond tinham formas arredondadas, eixo humanista pouco acentuado, traços modulados, ligeiro contraste entre variações de espessura, serifas acentuadas e a altura de x pequena. O conjunto de glifos representa uma relação harmoniosa da influência dos alfabetos maiúsculos lapidares romanos com a minúscula carolíngia. Ainda acresce, neste exemplar, a letra itálica, cuja invenção é atribuída a Ludovico Arrighi.

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Figura 9: Fotografias da capa e lombada do livro Rimas varias, tiradas pelas alunas do curso Profissional de Técnico de Fotografia Bruna César e Rafaela Vaz

O estudo do terceiro ‘objeto do mês’ começou com a consulta de várias fontes na busca de elementos que pudessem enquadrar a sua chegada à escola. Para o efeito, deu-se início à exploração de documentação sobre a Biblioteca. Consultaram-se os anuários e, no Arquivo Histórico, os livros de tombo e de registo de requisições, notas avulsas existentes junto a estes livros e os copiadores de correspondência das primeiras décadas do século XX. A análise do 1.º Livro Entradas (Tombo) Biblioteca1909 a 1947 permitiu verificar que este Rimas varias existe na Biblioteca desde a fundação da Escola (1909), estando registado com o número de inventário 235. No entanto, não foi ainda possível esclarecer se foi adquirido ou doado, uma vez que as nove primeiras páginas do referido livro de registos se perderam, sendo a primeira referência da décima página indicada com o número de inventário 381, lançada em 1909. A dificuldade de conhecer a proveniência do Rimas varias tem suscitado a incursão a documentação cada vez mais diversa, consulta dificultada pelo facto de uma parte da documentação do Arquivo Histórico ter sido destruída por um incêndio que decorreu em 2005.

Ainda assim, foi possível analisar o livro de registos das requisições efetuadas por professores do Liceu, entre 1925 e 1949. Durante este período, a requisição de Rimas varias nunca foi registada, o que abre campo à hipótese de se tratar de um livro muito reservado e valioso. Esta hipótese é corroborada por Joaquim de Carvalho, segundo o texto de José V. de Pina Martins[8], que afirmou que “esta edição é muito estimada, e mesmo notável. Dela foi mandado um exemplar à Exposição de Paris, em 1867.

Muitas das questões que têm surgido ao longo do estudo que se está a fazer, no âmbito desta investigação para o ‘objeto do mês #3’, só podem ser enquadradas tendo em atenção um plano mais abrangente e complexo que considere a história do nosso país. Por exemplo, as medidas tomadas por José Xavier Mouzinho da Silveira e pelo ministro Silva Carvalho do governo liberal, da década de 30 do século XIX[9], e a Reforma do Ensino Liceal de Passos Manuel, na qual se defende que os estudos secundários deveriam dar ao cidadão uma ampla cultura geral. Esta visão acompanhou a construção e dotação de muitos dos liceus históricos portugueses. A este propósito e relativamente às Bibliotecas, António Ferrão refere, em 1920:

Como se sabe, todos os liceus teem as suas bibliotecas privativas mais ou menos bem sortidas. Ao passo que algumas delas teem os seus recheios constituidos, principalmente, por obras dos séculos XVII e XVIII, de teologia, história e literatura, - restos das livrarias conventuais, outras estão muito regularmente providas de obras modernas de sciências da natureza, geografia, história, literatura e filosofia. Entre estas é legitimo salientar as bibliotecas dos novos liceus de Lisboa: Passos Manuel, Pedro Nunes, e Camões. (Ferrão, 1920, p. 241 apud Estudante, 2013, p. 72)

Rimas varias de Luis de Camoens Principe de Los Poetas Heroycos e Lyricos de Espana; comentadas por Manuel de Faria Y Sousa suscita interesses muito diversificados que se prendem com a personalidade controversa de Manuel Faria e Sousa, as condicionantes relacionadas com o período filipino, com o conteúdo da obra e a possível adulteração de muitos dos textos compilados, de acordo com a análise de Carolina Michaëlis de Vasconcelos, António José Saraiva e Óscar Lopes, entre outros. No entanto, os comentários que acompanham a obra de Manuel Faria e Sousa também recebem elogios e apelam a uma compreensão mais ampla do seu enquadramento histórico. A este propósito, Joaquim Costa cita Jorge de Sena:

[…] poderíamos até afirmar que sob muitos aspectos, os comentários de Faria e Sousa são mais relevantes hoje do que o eram quando ele os publicou, porque nos colocam em contacto com uma multidão de referências que se perderam da memória culta e dormem o seu sono na vastidão das bibliotecas e arquivos deste mundo. (Costa, 2012, p.8) 

Esta complexidade de itens de análise, onde confluem temas da história e literatura portuguesas, além de aspetos relacionados com a própria história da Escola, gera um campo fértil para uma abordagem transdisciplinar e fomentadora de reflexão e conhecimento. Esta complexidade estimulou uma interação muito particular com alguns alunos.

Uma das preocupações que acompanharam a elaboração do ‘objeto do mês #3’ foi conhecer o modo como os alunos percecionavam este Livro Antigo e colocar o enfoque na partilha de conhecimentos, ideias e produtos. Nesse sentido, foram feitas entrevistas (gravações áudio associadas à ficha de inventário) a dois alunos que têm acompanhado ativamente o projeto MUESC.

Para Bruna César, “tocar num livro e saber que foi escrito e editado há tanto tempo, há mais de 400 anos, foi uma experiência incrível.” Fotografar o livro, nos seus detalhes, permitiu-lhe apreender um conjunto de pormenores que de outra forma seriam inatingíveis. Para a Bruna também foi importante perceber melhor a história e evolução do livro enquanto objeto: “consegui ver a evolução do que era antes e o que é agora - os materiais da capa, a tipografia das letras e as imagens.” Poder ver a obra Rimas varias sem ser através das grades do armário da biblioteca foi para ela uma experiência muito gratificante.

João Richart realçou o facto de o papel ser mais rígido do que o dos livros atuais, ficou surpreendido com a saturação da cor que, atendendo à idade do livro, “esperava que fosse mais esbatida, que não se ia ver bem”; afinal, "as letras eram legíveis e percetíveis e havia um cuidado com a estética que já não se verifica hoje em dia”. Apreciou também a riqueza dos detalhes e da iconografia, embora tenha registado múltiplas diferenças na caligrafia e ortografia. Salientou ainda que o livro ia muito além das rimas: “é um livro feito para pesquisa e para o entendimento, com listagem de siglas e acrónimos” e tornando próximo um tempo tão distante, em que a Inquisição exercia a sua atividade censória. Sentiu necessidade de voltar a ver o livro para absorver melhor o seu conteúdo e sublinhou a importância do contacto físico para percecionar melhor uma realidade “que nos parece distante”. Quando confrontado com as dúvidas que a obra suscita, considerou que isso ainda estimula mais atenção e apreço por esta: “a dúvida é enriquecedora... é o método de Descartes. Os pontos de reflexão nunca vêm de afirmações, vêm sempre de dúvidas porque, quando chegamos ao certo, ao fim da estrada, já lá estamos e podemos tirar conclusões. Mas uma conclusão é diferente de uma reflexão ou de uma questão, na dúvida a inquietação é como um motor para que se procure mais, para que se pesquise mais, para que se absorva mais”.

O ‘objeto do mês #3’ permitiu também a preparação de uma sessão destinada aos alunos do 10.º ano, no âmbito do estudo da lírica de Camões. Esta sessão dedicada a Rimas varias agrega aspetos relacionados com o já mencionado contexto histórico da obra, a sua edição e o seu conteúdo. Por outro lado, esta edição de 1685 possibilita uma abordagem sobre a evolução do objeto livro, através da comparação entre esta e edições atuais. Além disso, permite que os alunos percecionem elementos da sua materialidade e organização como: elementos extratextuais (anatomia do livro), pré-textuais, textuais e pós-textuais. 

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Figura 10: Mancha gráfica da página 193 do livro Rimas varias

A consulta das diversas fontes permitiu-nos encontrar elementos explicativos sobre a origem de outros Livros Antigos. Por exemplo, ao consultar o livro de tombo, descobriu-se que a obra Ásia Chronica do Felicissimo Rey Dom Emanuel da Gloriosa Memória foi doada à escola em 1938, por Luís de Albuquerque de Sousa Lara, pai e encarregado de educação do aluno n.º 12 do 6.º 1.ª, António Luís Cisneiros Ferreira de Albuquerque Sousa Lara, conjuntamente com mais de 20 livros. Pelo que foi possível observar, as doações por encarregados de educação de alunos eram frequentes. Este livro, assim como centenas de livros deste acervo, são dos séculos XVI, XVII, XVIII e XIX, sendo representativos da literatura, história, ciência e artes deste largo período.

CONCLUSÃO

São muitos os desafios que se impõem aos cidadãos do século XXI. Contudo, não se pode esquecer o passado e o legado extraordinário dos nossos antepassados, de gerações que cuidaram de um vasto património material e imaterial. Este património é fundamental para o conhecimento que se ensina e que se gera diariamente nas mais diversas áreas científicas, artísticas e das humanidades, bem como para a história da escola e para a memória da sua identidade. No entanto, a importância deste património é bastante mais abrangente, sobretudo se considerado no seu todo. Inclui edifícios, coleções e objetos cuja qualidade, quantidade, singularidade e coerência científicas e artísticas o projetam para um nível nacional e internacional. Numa instituição de ensino com uma longa história, as tensões entre o passado e o futuro são inevitáveis. Por um lado, o passado é fonte de orgulho, prestígio, legitimidade e identidade. Por outro, o compromisso da escola com a sociedade está no futuro, tendo de se reconfigurar de modo a responder às exigências dos novos tempos, caracterizados pelo rápido avanço do conhecimento, da criação, da tecnologia e da inovação. Este aparente paradoxo, se, por um lado, confere significados e especificidades próprias às coleções históricas e ao património gerado pela escola, também lhes traz um grande desafio, que transcende largamente o âmbito da instituição, o de contribuir para uma maior visibilidade da cultura e do património e para o reconhecimento da sua importância e do seu caráter transversal em todos os setores da sociedade.

Neste contexto, a Escola Secundária de Camões tem vindo a assumir um papel inovador no panorama do ensino em Portugal. Propõe-se, especialmente aos alunos, um exercício de cidadania e participação social que lhes permitirá conhecer melhor para melhor valorizar o património da sua Escola. A partir de um edifício ou de um espaço, de um objeto ou de um conjunto de objetos (livros, manuscritos, fotografias, mapas, pinturas, esculturas, peças associadas a uma celebração ou a um testemunho, espécimes de história natural, instrumentos científicos, entre outros a ponderar - as opções são múltiplas), podem ser realizados estudos que sirvam de base para o desenvolvimento de um programa cultural integrado. Assim, a partir da experiência e do contacto direto com os bens materiais e imateriais, propõe-se a participação num processo ativo de apropriação e de valorização das suas referências culturais, tendo como vetor de produção de conhecimento o património cultural da Escola Secundária de Camões.

Preservar e disponibilizar de forma integrada este património, apesar de todos o desejarmos, coloca muitos desafios.  A Escola está ciente desses desafios e, sem esmorecer perante os obstáculos, reafirma a necessidade de se avançar para esta etapa com a comunidade escolar e com o apoio de unidades de investigação, universidades, museus e outras instituições. Será um trabalho longo e difícil, mas necessário para se alcançar o objetivo de criar o MUESC - Museu da Escola Secundária de Camões Mariano Gago. Devolver à comunidade o património da Escola é um dever perante todos os que preservaram este acervo ao longo de mais de um século.  Só assim será possível contar esta nossa história, que é a história de todos nós.

AGRADECIMENTOS

O presente artigo só foi possível graças à colaboração dos alunos Bruna César, João Richart e à turma 12.º M do Curso Profissional de Técnico de Fotografia, da Escola Secundária de Camões. Agradecemos também as indicações e a ajuda de Ângela Lopes, Francisco Pereira, Hugo Cunha, João Jaime Pires, João R. Figueiredo, Lídia Teixeira, Maria João Mogarro e Marta Lourenço.

REFERÊNCIAS

Costa, J. (2012). Manuel de Faria e Sousa Cidadão do mundo e das letras ao serviço de Portugal. Centro de estudos do românico e do território, 1.ª edição.

Estudante, A. B. de O. (2013). Biblioteca do Liceu de Faro (1836-1948) entre a história do liceu e os manuais escolares de ciências do seu fundo documental. Dissertação apresentada à Universidade do Algarve para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Documentais. 

Heitlinger, P. (2006). Tipografia, Origens, formas e uso das letras. Dinalivro.

Magalhães, J. (2006). O mural do tempo: manuais escolares em Portugal. Edições Colibri e Instituto da Educação da Universidade de Lisboa.

Nóvoa, A. & Santa-Clara, A.T. (Coords.) (2003). “Liceus de Portugal” Histórias, Arquivos, Memórias.  Edições Asa.

Silva, C.M.M. (2000). Escolas belas ou Espaços sãos? Uma análise histórica sobre a Arquitetura escolar portuguesa (1860-1920). Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa.

Sousa, M. F. (1695). Rimas varias de Luis de Camoens Principe de Los Poetas Heroycos e Lyricos de Espana, Tomos I e II.

Camoniana - Joaquim de Carvalho, vida e obra, disponível em:  http://www.joaquimdecarvalho.org/artigos/artigo/103-Camoniana/pag-4

NOTAS

[1] Nota de apresentação, p. 13, em Nóvoa, A. & Santa-Clara, A.T. (Coords.) (2003). “Liceus de Portugal” Histórias, Arquivos, Memórias. Edições Asa.

[2] Marco na arquitetura escolar, centrado na conceção de um edifício destinado ao ensino secundário, com condições adequadas às exigências pedagógicas e higiénicas (cf. Silva, 2000, pp. 188-220).

[3] Ministério da Educação, Decreto-Lei n.º 41/2007, 21 de fevereiro.

[4] Na fundação do Liceu Camões, o museu teve lugar de destaque, na nave central. Mais tarde passou para o primeiro piso do pátio sul. Com a necessidade de se criarem mais salas de aula, foi desmantelado na década de 80 e o seu espólio espalhado por diversos espaços. Grande parte dos objetos foi concentrado no espaço num núcleo museológico, situado na zona da antiga Escola António Arroio, onde permaneceu até ao início da execução das obras pela Parque Escolar, em 2019.

[5] Relatório do professor Luís de Oliveira Maia referente à sua docência no Liceu Camões (1952). Arquivo da Secretária-Geral da Educação e da Ciência PT/MESG/AAC/IEL/001/0013/00723.

[6] A Terra e a Vida, Elementos de Ciências Geográfico-Naturais. Coautoria de J. Estevão e Luís de Oliveira Maia. Lisboa (1953). Escola de Camões, Biblioteca 52 EST.

[7] Proposta de reforma dos programas e métodos de ensino desta disciplina nos últimos dois anos do ensino liceal.

[8] No ano letivo de 2014/2015, a Escola Secundária de Camões associou-se às comemorações do centenário do nascimento do matemático José Sebastião e Silva (1914-1972), organizadas pela Universidade de Lisboa (sítio da Internet http://jss100.campus.ciencias.ulisboa.pt/)

[9] Texto de José V. de Pina Martins divulgado no sítio Camoniana - Joaquim de Carvalho, vida e obra.

[10] Luís Espinha da Silveira, em A venda dos bens nacionais (1834-43): uma primeira abordagem, Análise Social, vol. XVI (61-62), 1980-l.º-2.º, 87-11, explora a iniciativa de venda de bens nacionais, após a revolução de 1820, em 1834, que atingiu os bens da Igreja, da família real e parte dos da Coroa.

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