IBAD
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Escola Secundária D. Inês de Castro de Alcobaça

IBAD - Instrumento Biónico de Apoio a Doentes

 

No ano de 2080, máquinas e humanos coexistiam em perfeita harmonia. Em cada corpo, havia sempre uma peça metálica - um braço, um olho, uma perna, uma unha ou um simples dedo – e, em cada máquina, não era difícil vislumbrar uns belos olhos azuis, uma farta cabeleira castanha ou até mesmo um cérebro humano.

Rodolfo era um dedo. Por baixo do seu revestimento laranja, um emaranhado de fios, resistências, sensores e parafusos e, bem lá no fundo, um sonho. Rodolfo queria ajudar os outros, não importava se fossem humanos ou máquinas, queria ter uma função que o destacasse dos outros dedos que por ali se fabricavam, em série e desprovidos de ambição, mas…por enquanto, era apenas o dedo que conhecia o céu.

O nosso amigo era astrónomo, conhecia todos os planetas, estrelas e galáxias existentes no universo e, quando alguém lhe perguntava onde ficava Sirius ou Alpha Centauri, por exemplo, prontamente levantava o dedo e apontava na direção do céu estrelado o caminho para essas estrelas. Vivia num Observatório Astronómico por onde diariamente passavam centenas de homens, mulheres, crianças e robots, uns movidos pela sede de conhecimento, outros apenas pela simples curiosidade acerca do mundo que os rodeava. No entanto, Rodolfo era apenas mais um num oceano de Rodolfos, milhões de dedos espalhados pelo planeta apenas projetados para ensinar.

Ora, foi numa dessas visitas que o nosso pequeno cientista conheceu Josefina, professora culta e aprumada que levava os seus pupilos a conhecer tão afamada instituição. Josefina, tal como o nosso protagonista, também era uma máquina concebida para ensinar, não os enigmas do universo, mas a cartilha aos mais pequenos. Dentro do seu corpo de lata alojava-se, no entanto, um coração humano, quente e carinhoso.

Entre eles estabeleceu-se uma conexão. Ele, atraído pela forma simples e clara como ela transmitia a informação aos seus alunos, pequenos rebentos frutos de uma geração híbrida, e ela, atraída pela vastidão incomensurável de conhecimento que o pequeno dedo lhe fornecia. Depois desse primeiro contacto, muitos outros se sucederam. A doce docente, sempre que o horário lhe permitia, lá voltava ao Observatório e por ali se esquecia a conversar com o dedo.

Relação impossível, diziam uns, relação improvável, diziam outros, relação condenada a existir, digo-vos eu. Na cúpula astronómica do edifício, muitas vezes encontravam-se os dois a conversar. Os corpos celestes e os fenómenos além Planeta Terra fascinavam a professora primária e, pouco a pouco, foram-se tornando inseparáveis.

Foi num desses momentos de cumplicidade que Rodolfo confessou a Josefina que não se sentia realizado com a atividade que desempenhava. o seu sonho abrangia algo muito maior que o universo e, no entanto, tão simples e claro como poder ajudar alguém. A pureza de tal sentimento atravessou todas as frias peças metálicas da jovem robot e alojou-se no seu pequeno coração humano com a intenção de ali ficar para sempre.

Para além das quatro paredes do Observatório e do cenário idílico desta história, existia um mundo a palpitar lá fora. Esse mundo era a preto e branco, a coexistência harmoniosa entre máquinas e humanos custava ao planeta a sua própria sobrevivência. Chaminés altas e baixas cravejavam as paisagens soltando fumo agonizante, os resíduos industriais escorriam impiedosamente para os rios e oceanos, destruindo todos os frágeis ecossistemas, não se ouviam pássaros, e o chilrear noturno das relas era descrito nos manuais escolares como parte de um passado muito distante.

Enquanto os nossos amigos disfrutavam da companhia um do outro e começavam já a desenhar futuros risonhos, algo terrível estava prestes a acontecer. O punho forte da mãe natureza lançou sobre a Terra a sua revolta sob a forma de um vírus invisível e mortal. Este microrganismo infernal, uma vez alojado nas células, rapidamente as consumia e em pouco tempo o órgão onde se instalava acabava por sucumbir. Pobre Josefina, apanhada nesta espiral de sofrimento e dor, acabou por hospedar um destes inimigos. O seu quente coração humano, a transbordar de amor, foi subitamente assaltado pelo inimigo invisível. Levada de urgência para o hospital, ligaram-na a uma máquina que monitorizava os seus batimentos cardíacos e, como tantos outros, ali ficou, sozinha, a lutar, contra todas as esperanças.

O nosso inconsolável Rodolfo, através da sua antena, conseguia aceder à informação que a máquina hospitalar monitorizava e, à medida que os batimentos cardíacos se iam desvanecendo no tempo, toda a sua frustração e impotência eram descarregadas num botão que ali se encontrava. O som que o botão permitia acionar era o choro de uma alma em luto, até ao último pulsar da sua amada.

Josefina partiu, Rodolfo ficou. Afinal, de humano ele só tinha a alma, e esta o vírus não podia destruir, pois, tal como ele, também era invisível. À medida que a doença se ia apoderando do mundo, alguém olhou para o empoeirado dedo e viu nele uma esperança, uma possível ajuda para a humanidade. Com delicadeza, agarrou nos destroços desta avassaladora paixão e levou-os para o laboratório do velho hospital, centro do furacão onde pessoas e máquinas se amontoavam pelos corredores, aguardando um destino previsível.

Com destreza, sintonizaram a sua antena com todas as máquinas que monitorizavam os órgãos atingidos dos doentes daquele hospital e, sempre que os valores se desviassem do pretendido, o dedo carregaria num botão e, desta forma, os profissionais de saúde poderiam ajudar rapidamente quem mais precisasse. Tal como a flor desabrocha para a vida, também o nosso pequeno herói se reergueu do abismo da tristeza. Pouco a pouco, o empenho que colocava na sua nova função começou a dar frutos, acabando por ser reconhecido pelo seu profissionalismo e pela utilidade da sua função.

O nosso prezado astrónomo tornou-se um herói em tempo de guerra. Perdeu a sua amada, mas encontrou o seu caminho.


FIM


Autores: Carolina Martins, Francisca Quitério, Ricardo Valbom, Rodrigo Santos

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